No Ano de 1953, no norte de Minas Gerais, em meados de Novembro, numa
pacata cidadezinha chamada Porteirinha, aconteceu um fato curioso, para
não dizer assombroso. Fato esse que vou narrar, mas, por favor, que os
mais impressionáveis, não leiam.
Contam que, dentre os fazendeiros da
região, havia um rico e abastado apelidado de “João da Capa”. Recebeu
esse apelido por usar uma capa preta que arrastava no chão, a qual só
tirava mesmo pra dormir.
Sua esposa, mulher dedicada, adorava jóia.
Incansavelmente exibia colares, tiaras, anéis de rubis, chaveiros etc.
Mas tinha um anel, solitário, uma super pedra de diamante. Esse ela não
tirava nem para dormir.
Um dia, acometida de uma pneumonia, Dona
“Esmeralda”, esse era o seu nome, veio a falecer. Não, sem antes, fazer
seu marido, João da Capa, prometer que seria enterrada com seu anel
preferido.
O enterro foi pomposo, muitas flores, homenagens dignas
até, de uma autoridade. A banda da prefeitura acompanhou o cortejo e
todos pareciam compadecidos com o sofrimento do marido.
Logo mais à noite, João da Capa foi visto de canto em canto, com uma garrafa de aguardente na mão num sofrimento de dar dó.
Os
dias se passavam e sem se conformar João da capa cada vez mais era
visto bêbado, delirando. “Descanse em paz Esmeralda”, “Deixe-me em paz
Esmeralda”. Ninguém sabia ao certo o motivo das frases alucinadas.
Os
amigos decidiram investigar e começaram a seguir os passos de João da
Capa. A fazenda antes próspera e bem cuidada, agora abandonada, pois o
coitado nunca mais lá voltara, estava às escuras. Na porteira uma mulher
de branco, véu no rosto, de longe parecia muito com Dona Esmeralda. Zé
Vitor, Joaquim e Alfredo, os amigos que investigavam o caso, pararam a
alguns metros da fazenda. Os olhos arregalados, coração batendo em
disparada:
__ Céus! É dona Esmeralda!
Constataram, apavorados, o motivo do abandono da fazenda. O fantasma da mulher agarrado a porteira gemia e gritava:
__ Devolva meu anel! Quero-o de volta ou nunca mais te deixarei em paz!
Deram meia volta e não olharam para trás!
Aí tudo ficou esclarecido.
João da Capa, largado no banco da praça, com muito custo, respondia às indagações dos amigos.
Disse
que achou um desperdício enterrar a mulher com uma jóia tão cara e que
antes de fechar o caixão, fez a besteira, tirou o anel. Agora não tinha
mais a coragem de levar o “dito cujo” ao cemitério.
Pediu que os amigos o acompanhassem, mas um a um, todos deram uma desculpa. Não queriam se arriscar a uma vingança da falecida.
Eis que, depois de muitos goles, João da Capa se decide:
__ Vou hoje, à meia noite, ao cemitério devolver o anel. Abro um pouquinho o túmulo, jogo para dentro e vou-me embora.
__ Não João! Disse Alfredo.
__ Não vá embora sem rezar para falecida, ela pode cobrar a reza depois.
E
lá se foi João da Capa, o relógio da igreja começou a 1ª das 12
badaladas. O silêncio era mortal; só se ouvia o ranger do portão do
cemitério e os passos de João, capa arrastando no chão, invadindo os
túmulos à procura do de Dona Esmeralda.
Era muito escuro, depois de
alguns túmulos errados, eis que avistou o que buscava. Ergueu a tampa,
jogou o anel e preparava-se para ir embora quando lembrou do que disse
Alfredo:
__ Não sem rezar antes!
Ajoelhou-se então e apoiando os braços no túmulo começou:
“Ave Maria cheia de graça... Agora e na hora de nossa morte Amem!”.
Pronto, agora com dever cumprido vou embora!
Nisso, ajoelhado, fez menção de levantar, mas, “Deus”, sentiu que era puxado de volta ao chão!
__ Alguém está me puxando! Suava frio!
Novamente tentava erguer-se e era como se alguém o puxasse para baixo. __ “Esmeralda de Deus”, perdoe-me, deixe-me ir embora.
Ele sentia como se alguém o puxasse para dentro do túmulo!
Seu
coração explodia, o suor escorria, as pernas bambas, não deu noutra, o
coitado teve um infarte fulminante e faleceu ali mesmo! Pobre João da
Capa havia ficado tão nervoso, não percebeu que era a própria capa que
enroscava em seus pés e quando se erguia era como se alguém o puxasse de
volta ao chão.
Seu enterro foi lindo, cheio de flores, homenagens, etc. Só um fato ninguém sabe explicar.
João da Capa foi encontrado sem sua famosa capa e por isso enterrado sem ela.
Esse
fato mudou os hábitos dos moradores de “Porteirinha”. Até hoje, ninguém
mais se aproxima da fazenda, pois dizem que é mal assombrada. Assim que
o sol se põe toda cidade já dorme. Dizem que têm medo de encontrar João
por aí reclamando sua capa. E você, por acaso sabe de algo a respeito
da Capa de João? Se estiver com ela, leve até o cemitério quando o
relógio da praça soar 12 badaladas. Ah! Só não esqueça de rezar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Política de moderação de comentários:
A legislação brasileira prevê a possibilidade de se responsabilizar o blogueiro pelo conteúdo do blog, inclusive quanto a comentários; portanto, o autor deste blog reserva a si o direito de não publicar comentários que firam a lei, a ética ou quaisquer outros princípios da boa convivência.